quarta-feira, 19 de setembro de 2007

O paraíso dos motoristas


O trânsito de Belo Horizonte, para mim, nunca foi dos melhores, mas, depois de vir morar no Recife, me dei conta de que o tráfego da capital mineira é uma maravilha. O trânsito do Recife é caótico. Costumo dizer que aqui é o paraíso dos motoristas, já que tudo é permitido. Invadir a contramão sem se preocupar com quem vem de lá; mudar subitamente de pista sem olhar para o lado e, claro, sem cogitar ligar a seta; parar na fila dupla, mesmo com vagas disponíveis; ignorar veículos com preferência... Tudo perfeitamente normal.

Há duas coisas, porém, que achei especialmente curiosas – e irritantes. Uma é o fato de que, aqui, usa-se a buzina para tudo. “Ó, estou atravessando um cruzamento”: fonfon! “Ô, da bicicleta, fica esperto que eu to passando”: fonfon! “Sai da frente”: fonfon! E tem ainda a impressão de que todos os motoristas, enquanto esperam o sinal verde (a não ser o primeiro da fila), ficam com a mão a postos para pressionar a buzina tão logo o sinal abra, como que para apressar quem está na frente e sem levar em conta aqueles segundinhos que gastamos para ver que o sinal abriu, engatar a primeira e sair. Mesmo se o carro do cara for o décimo da fila, o que implica que ele vai demorar um pouco mais a arrancar, ele está lá, pronto para buzinar imediatamente após o sinal ficar verde, como se isso fosse adiantar alguma coisa pra ele. E tem mais uma, que eu nunca tinha ouvido contar: as torcidas têm [vou aproveitar o têm enquanto posso] buzinadinhas específicas para identificar cada um dos principais times de futebol daqui (Sport, Náutico e Santa Cruz). Já consigo reconhecer a do Sport e a do Náutico.

O outro aspecto do trânsito recifense, e para mim o mais absurdo de todos, é a freqüência e a tranqüilidade com que os motoristas, numa via de mão dupla, posicionam o veículo à esquerda da faixa (podendo ou não invadir a contramão), param o carro em qualquer altura da rua, ligam a seta esquerda – ou não – e esperam calmamente uma brecha no tráfego da mão ao lado para entrar à esquerda, seja para fazer uma conversão, um retorno, estacionar em frente a uma loja ou entrar numa garagem. Enquanto isso, os carros que tiverem a infelicidade de estar atrás daquele desviam ou aguardam para poder seguir.

Eu fico abismada com esses comportamentos dos motoristas do Recife. Confesso abertamente que dirijo mal, sobretudo porque sou uma motorista recente e dirigi pouquíssimas vezes após tirar a carteira. Tenho ainda aquele receio natural de encarar o trânsito, e este daqui não está ajudando.