sexta-feira, 4 de maio de 2007

Imprudência? Ou deboche mesmo?

Sobreviver, segundo o Aurélio, é continuar a ser, a viver, a existir. O advogado de Paulo Medina, Antônio Carlos de Almeida Castro, disse há dois dias que seu cliente, mesmo afastado do cargo, não poderia abrir mão do salário de R$ 23 mil porque não sobreviveria. Com esse termo, exatamente. Vi no telejornal e tenho testemunhas.

Desde então me pergunto: haveria colocação mais infeliz? Mais ultrajante? Mais ofensiva aos milhões de brasileiros e pessoas do mundo todo que sobrevivem, a duras penas, com menos de R$ 23 mil mensais? Não creio.

Será que o senhor Paulo Medina, mesmo com um salário tão alto, mesmo – [acrescento aqui a palavra “supostamente”, porque não quero complicações com a Justiça, tento ser cautelosa com o que escrevo e, ademais, não se pode confiar nesses juízes...] supostamente - cobrando fortunas para usar seu poder a favor de alguns, não conseguiu juntar um dinheirinho para sobreviver? Será que ele se esqueceu de considerar a possibilidade de sua – suposta – prática ilegal ser descoberta, e agora não tem como se recusar a receber o salário, caso contrário morre? Será que o ministro sofre da mesma imprudência do seu advogado? Ou é só deboche mesmo?

O senhor Antônio Carlos de Almeida Castro, como homem estudado (que certamente é) e cauteloso com as palavras (que deveria ser, sobretudo por ser advogado e advogado de gente importante que paga bem para se safar das sacanagens que faz), não pode dar-se ao luxo de cometer um deslize tão feio. Poderia ele ter dito que Paulo Medina não abriu mão do salário para manter o atual padrão de vida. Mas, não: Paulo Medina não sobrevive se não for com pelo menos R$ 23 mil depositados mensalmente em sua conta bancária. Ele deixa de viver, de existir. Ele morre.

Ele realmente deve admirar os miseráveis, aqueles que conseguem, não se sabe exatamente como, sobreviver com parcos R$ 350 - o salário mínimo, pelo menos para a maioria dos brasileiros – ou, muitas vezes, nem isso. O ministro deveria aproveitar a influência que tem (ou enquanto tinha) para sugerir o novo valor do salário mínimo do Brasil. Eu adoraria vê-lo explicar por que é impossível sobreviver com menos de R$ 23,2 mil por mês.