Sobreviver, segundo o Aurélio, é continuar a ser, a viver, a existir. O advogado de Paulo Medina, Antônio Carlos de Almeida Castro, disse há dois dias que seu cliente, mesmo afastado do cargo, não poderia abrir mão do salário de R$ 23 mil porque não sobreviveria. Com esse termo, exatamente. Vi no telejornal e tenho testemunhas.
Desde então me pergunto: haveria colocação mais infeliz? Mais ultrajante? Mais ofensiva aos milhões de brasileiros e pessoas do mundo todo que sobrevivem, a duras penas, com menos de R$ 23 mil mensais? Não creio.
Será que o senhor Paulo Medina, mesmo com um salário tão alto, mesmo – [acrescento aqui a palavra “supostamente”, porque não quero complicações com a Justiça, tento ser cautelosa com o que escrevo e, ademais, não se pode confiar nesses juízes...] supostamente - cobrando fortunas para usar seu poder a favor de alguns, não conseguiu juntar um dinheirinho para sobreviver? Será que ele se esqueceu de considerar a possibilidade de sua – suposta – prática ilegal ser descoberta, e agora não tem como se recusar a receber o salário, caso contrário morre? Será que o ministro sofre da mesma imprudência do seu advogado? Ou é só deboche mesmo?
O senhor Antônio Carlos de Almeida Castro, como homem estudado (que certamente é) e cauteloso com as palavras (que deveria ser, sobretudo por ser advogado e advogado de gente importante que paga bem para se safar das sacanagens que faz), não pode dar-se ao luxo de cometer um deslize tão feio. Poderia ele ter dito que Paulo Medina não abriu mão do salário para manter o atual padrão de vida. Mas, não: Paulo Medina não sobrevive se não for com pelo menos R$ 23 mil depositados mensalmente em sua conta bancária. Ele deixa de viver, de existir. Ele morre.